Numa sala de aulas suficientemente grande coloque bastante indisciplina e má-criação e deixe ferver. Escolha muito bem os professores, submetendo-os a um exame e separe os professores titulares dos restantes, livrando-se destes últimos. Pique os professores titulares finamente e adicione-os à mistura quando esta começar a ferver. Mexa bem e deixe apurar. Entretanto, retire do congelador a progressão na carreira e deixe descongelar muito lentamente na prateleira mais alta do frigorífico. Numa tigela grande misture bem falta de condições materiais das escolas com uma boa dose de insuficiência de tempo para a direcção de turma e reserve, deixando fermentar. Quando tiver crescido bastante, acrescente a este preparado trabalhos de casa realizados na escola cortados em cubos pequenos e envolva tudo muito bem com avaliação dos professores por encarregados de educação. Junte este preparado ao caldo que anteriormente deixou a apurar e mexa tudo muito com uma boa pitada de componente não lectiva (quanto mais melhor!). Deixe cozer muito lentamente em lume médio por 3 a 4 anos lectivos. Sirva numa cama rica de incompetência e regado com uma dose abundante de abandono escolar. Acompanhe com um copo refrescante de violência contra professores. Como sobremesa sugere-se um abacaxi bem grande com casca.
SUGESTÃO DA SOPEIRA: para descascar este grande abacaxi em que se vai tornar a educação em Portugal, olhe...
O tipo desce na estação de metro vestindo jeans, t-shirt e boné, encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem na hora rush matinal.
Durante os 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado pelos traseuntes, ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares.
Alguns dias antes Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a 'bagatela' de 1000 dólares.
A experiência, gravada em ídeo, mostra homens e mulheres de andar rápido, copo de café na mão, telemóvel ao ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino. A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte.
Conclusão: estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão num contexto.
Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artecfato de luxo sem etiqueta de glamour. Somente uma mulher reconheceu a música...